Hoje me senti como na primeira vez que velejei sozinho. Estava acontecendo o Pré-Olímpico para as Olimpíadas de Atenas, em 2002 ou 2003, não me lembro ao certo. Estava nos altos dos meus 14, 15 anos, chovia e eu queria ver Robert Scheidt, meu herói na época, velejando de perto, e vi, não tão de perto, porque o comitê olímpico não deixava meu veleiro se aproximar muito da regata para não atrapalhar a prova. Apesar desse momento único de minha vida, eu sentia muito medo, era a primeira vez que navegava sozinho pela Bacia de Santos, chovia, e o vento de traves entrava com toda força, eu escorava com o corpo por inteiro fora do veleiro pra impedir que ele virasse. Essa sensação voltou depois de anos, e novamente estou navegando por águas difíceis em meio a tempestade. Como na época, tenho o conhecimento teórico, “treinei” em águas menos tormentosas, e como antes, tudo isso não está me acrescentando em nada. Estou em um mar que não é governado por Poseidon/Netuno, mas por Afrodite/Vênus, mas suas tormentas são tão, se não mais, assustadoras. Se outrora o que me assustava era a chuva, a neblina, as ondas batendo nas bochechas do veleiro, jogando todo o sal da água em meu rosto, hoje o que me assusta é a duvida, o Amor e as dores da alma. É algo parecido com a sensação de estar em um baile veneziano a procurar do alguém, mas sem saber qual é a sua mascara. Como antes, caço minhas velas, escoro o corpo, e o vento em traves me carrega, “ziguezagueando”. Bordo após bordo, me sinto mais forte, mais corajoso, preparado. Bordo após bordo entendo mais como Odisseu/Ulisses se sentiu nos anos ao mar, em busca de Ítaca, onde Penélope o esperava. Me sinto o herói grego, e assim como ele, não irei desistir. Se ele esperou 20 anos, sou capaz de esperar 200. Sempre acreditei que amar era se doar sem esperar doação, mas nunca entendi. Hoje eu entendo. Hoje estou preparado. O hoje não é tarde de mais.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
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Gostei, gostei muito. Acreditar sem entender é um ato de fé. Mas, particularmente, prefiro conseguir entender as coisas, tirá-las do campo campo nebuloso. E, ainda assim, é tão bom que certas coisas existam sem que lhes caibam explicações... =)
ResponderExcluirMariana Gondo