sábado, 20 de junho de 2009

Trovas de Sabado a Noite

Sábado à noite e eu em casa. Na verdade não lembrava qual foi o ultimo sábado a noite que fiquei em casa. Na viagem cheguei aos meus distantes 13 para 14 anos que eu passava as madrugadas de fim de semana vendo “Samurai X” na TV a cabo. Era sangue e dor para todo lado, e um pouco de culpa que Battousai, O Retalhador, carregava por todas que matou, ou na verdade, pelo amor que perdeu/matou. Lembrei da melancolia que sentia, lembrei dos meus tempos “pré-primeira-namorada”, casto e inocente. Só pensava em tocar, jogar vídeo-game e mais nada. Sabe, minha infância foi simples. Passava férias de verão e inverno na minha avó, numa cidadezinha no interior do Rio de Janeiro chamada Itaguaí, empinava pipa com meu tio Moacir, ouvia Hard & Heavy e jogava vídeo-game com meu tio Daniel. Fins de semana nós íamos às praias da região da costa verde. Desconhecia o amor, a melancolia, a saudade... Só os conhecia por nome. Ia ao centro espírita com minha avó, conversava com os que já se foram. Brincava com os cachorros, ouvia os cantos dos canários encarcerados, era o entoar dos que não podiam mais voar. Passava as tardes deitado na rede vendo os beija-flores beberem água nos bebedouros, a mesma rede que anos antes eu imaginara ser um navio pirata. Provavelmente nenhum desses beija-flores flutue mais pelo o ar. Lembro dos vultos que eu via na cozinha de madrugada, de dividir a cama com minha avó, por medo. Os dias que meu avô chegava do espírito santo trazendo sempre algo novo ao meu universo. Lembro daquele Corinthians fenomenal do “melhor lado esquerdo do mundo” com Kleber, Ricardinho e Gil, campeão do Rio - São Paulo e Copa do Brasil, Vice Brasileiro, já sem Ricardinho, que após a copa o mundo foi para o São Paulo. Dessa época vêem minhas primeiras lembranças ligadas a decepções, a chorar pela traição de minha primeira namorada. No fundo esse sábado à noite na minha casa me fez refletir sobre o homem. Toda minha vida foi recheada de sentimentos, de vários sentidos. Posso dizer que na sala das emoções, já percorri por todas as portas e corredores. Tenho certa fixação pela saudade, aquele sentimento que só nós que falamos com essa língua lusitana conseguimos descrever em palavras, o misto de melancolia, tristeza e falta de algo/alguém importante que os homens do mar sentiam dentro das naus na época das grande navegações. Sempre me senti muito solitário, mas nunca quis dividir minha solidão com mais ninguém, em um ímpeto egoísta de minha parte. Percebo que o sentimento, as emoções são as fragilidades humana, mas depois de todo caminho que percorri também vejo que é que nos torna humanos.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Heterônimo

O vento frio é o mesmo de antes. A vista de minha janela é a mesma de antes, verde, azul e branca, com uns toques de marrom. Minhas caminhadas são as mesmas de antes, subidas, descidas, curvas e retas. Meus passos são os mesmos de antes, rápida e atrapalhada, como de um malabarista. Mas eu não sou o mesmo de antes. Antes eu era um “cover” de mim mesmo, imitava meus passos, imitava meus trejeitos, imitava minhas falas, minhas vontades e mesmo minhas angustias. O ultimo mês para mim foi como atravessar o vale das duvidas. Não sabia mais quem eu era, o que eu queria ou mesmo quem eu queria. Talvez eu nunca houvesse sabido. É muito complicado falar sobre alguém que só vejo nos espelhos, inverso do que realmente é. Quando toco-lhe as mãos, estas são frias, planas, vidro e prata. Precisei andar, andar e andar. Na “solidão” conversei comigo mesmo, conheci o eu. Re-vivi amores, um por um. Descobri agora o que realmente senti, vivi. Re-vivi situações. Re-vi meus erros, que foram muitos, mais do que acertos. Não sou a lamina reta, sou curvo, inconstante. Tenho medos, muitos cortes e poucas cicatrizes. Perdi quem me amou, me entreguei a quem não me amava. Tenho problemas com Deus. Acho que se ele existe como a maioria acredita, aquele que faz de nossas vidas um grande The Sims, eu ele escolheu para sacaniar, ou simplesmente esqueceu. Tenho problemas com meus pais. Foram maravilhosos, mas os cortes que em mim deixaram hoje doem mais do que antes, tão abertos e inflamados. Não sou popular, nem quero ser. Não sou o estereótipo de beleza, nem quero ser. Ao menos sem que os poucos que estão ao meu lado são porque realmente me gostam. Somente hoje vejo um pedaço da pintura que antes não podia ver por estar muito próximo, espero amanha ver a tela inteira. Hoje os olhos do cara que vejo no espelho me dizem tantas coisas que não saberia por onde começar. Não sou mais meu proprio heterônimo