segunda-feira, 6 de julho de 2009

Grito Silencioso ( Eu mudo ou você surda?)

Sei que ninguém lê o que escrevo. Sei que ninguém ouve meus gritos. Sei que não há quem siga meus passos. Nas ruas, sei que não há quem me veja, entre os postos e as pessoas vou passando, me moldando, disfarçando, camuflando... Sou cinza como os prédios, prata como os carros, azul e verde como os telefones públicos. Quando me atiro não há quem me impeça. À noite, quando me deito, não há quem me pessa, me grite, me queira. Não tenho rosto, não tenho trejeitos, me travisto em ti para ser o que te atrai. Quero ser sua caça, não seu caçador, eu o derrotado, você o vencedor. Eu quero o medo de perder, o sangue, o frio e o vendo. O corpo junto, seu suor em minha pele. Sua voz doce de mulher dizendo coisas que não cabem em palavras. Os sossurros daquela que sente a dor de quem ama. Quero o movimento compassado, as unhas em minha pele, seus dentes contra seus lábios, suas mãos contra minhas gostas em uma luta que não tem um vencedor. Dois derrotados em meio aos lençóis. Quero meus olhos castanhos e oblíquos fintando suas curvas. Quero palmo a palmo de seu corpo entre meus lábios. Quero você como minha, me sentir tão vivo que chegue a doer. Mas acordo, nos corredores ninguém me vê. Nas ruas ninguém me vê. Nos elevadores ninguém me vê. Ando, entre todos, mas ninguém me vê. Ninguém se encanta por meus olhos, ninguém repara no meu andar. Nem de soslaio. Na noite eu cruzo por você, mas sempre está escuro de mais pra me ver. Eu sempre grito, mas nunca há quem me ouça. Sempre construo fantasias para satisfazer meus desejos, mas no fim sempre minha cama é grande de mais para mim.

Um comentário:

  1. Você mudo e eu surda.
    Você sabe que isso pode se tornar realidade( sempre pôde durante anos), basta fazer acontecer!

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