quarta-feira, 10 de junho de 2009

Heterônimo

O vento frio é o mesmo de antes. A vista de minha janela é a mesma de antes, verde, azul e branca, com uns toques de marrom. Minhas caminhadas são as mesmas de antes, subidas, descidas, curvas e retas. Meus passos são os mesmos de antes, rápida e atrapalhada, como de um malabarista. Mas eu não sou o mesmo de antes. Antes eu era um “cover” de mim mesmo, imitava meus passos, imitava meus trejeitos, imitava minhas falas, minhas vontades e mesmo minhas angustias. O ultimo mês para mim foi como atravessar o vale das duvidas. Não sabia mais quem eu era, o que eu queria ou mesmo quem eu queria. Talvez eu nunca houvesse sabido. É muito complicado falar sobre alguém que só vejo nos espelhos, inverso do que realmente é. Quando toco-lhe as mãos, estas são frias, planas, vidro e prata. Precisei andar, andar e andar. Na “solidão” conversei comigo mesmo, conheci o eu. Re-vivi amores, um por um. Descobri agora o que realmente senti, vivi. Re-vivi situações. Re-vi meus erros, que foram muitos, mais do que acertos. Não sou a lamina reta, sou curvo, inconstante. Tenho medos, muitos cortes e poucas cicatrizes. Perdi quem me amou, me entreguei a quem não me amava. Tenho problemas com Deus. Acho que se ele existe como a maioria acredita, aquele que faz de nossas vidas um grande The Sims, eu ele escolheu para sacaniar, ou simplesmente esqueceu. Tenho problemas com meus pais. Foram maravilhosos, mas os cortes que em mim deixaram hoje doem mais do que antes, tão abertos e inflamados. Não sou popular, nem quero ser. Não sou o estereótipo de beleza, nem quero ser. Ao menos sem que os poucos que estão ao meu lado são porque realmente me gostam. Somente hoje vejo um pedaço da pintura que antes não podia ver por estar muito próximo, espero amanha ver a tela inteira. Hoje os olhos do cara que vejo no espelho me dizem tantas coisas que não saberia por onde começar. Não sou mais meu proprio heterônimo

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